As vezes bate uma saudade da infância, do tempo que sonhar, mesmo acordada, era um dever. Pedir, desejar, espernear, chorar, sorrir, gargalhar, olhar, mentir, ser eu mesma; tudo era tão normal. As preocupações, os problemas, as dúvidas, os sonhos, as angústias, as dores, eram tão grandes naquela época, mas são tão pequenos agora. Casamentos eram como em contos de fadas, os 'felizes para sempre' era para sempre, um 'eu te amo' podia mover o mundo. Quem fazia coisas erradas era repreendido, quem fazia as coisas certas ganhava um prêmio (geralmente um beijo e um abraço - os melhores do mundo). Não sei se hoje em dia eu agradeço ou condeno quem me escondeu a verdadeira história dos contos de fadas. A fase mais dolorosa é ver seu castelo cair e seu príncipe ir embora. A decepção toma conta da mente e do coração. A realidade começa a dar as caras, e se conseguimos driblar o sofrimento aqui, logo ele nos acha novamente. Aprendemos a sermos egoístas, de certa forma, ou seremos pisados. E o 'felizes para sempre' acabou, junto com o 'eu te amo', os beijos, os abraços, os sonhos, as gargalhadas. Mas quem falou que eu queria que acabasse? Mas quem disse que eu quero esse mundo pra mim? Eu quero poder desejar, espernear, chorar, sorrir, mentir, e ser normal. Quero sentir, quero experimentar, quero bisbilhotar, quero falar sem culpa, sem medo. Eu preciso de regras, mas não preciso cumpri-las. Quero que escondam o mundo de novo. Quero ser eu. E só eu. Uma criança sonhadora. Que que tem?
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